segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

RESENHA: A Identidade Bourne

A Identidade Bourne / Robert Ludlum / LivroTodo bookaholic que se preze tem alguns livros que parecem destinados a permanecer na estante. Há tanto tempo ali, eles se tornaram uma espécie de paisagem literária e já nem são vistos na hora de escolher uma nova leitura. No meu caso, “A Identidade Bourne” era um desses livros.

Jason Bourne acordou em um vilarejo, sem qualquer lembrança de como foi parar ali, de onde veio, o que faz para viver ou mesmo de qual é o seu nome. E basta acordar para que seus problemas comecem. Dono de uma conta bancária recheada com uma soma altíssima, proveniente de depósitos cuja origem ele desconhece, e perseguido por pessoas que, obviamente, querem matá-lo, Bourne começa a descobrir talentos que não sabia que tinha, como habilidades de combate, tiro e manipulação. E elas serão muito úteis para que ele escape de seus perseguidores, enquanto busca por segurança e por respostas para as perguntas sobre si mesmo.

É provável que você, assim como eu, esteja mais familiarizado com a adaptação cinematográfica que conta com Matt Damon no papel de Jason Bourne do que com a obra original de Robert Ludlum. E esse pode ser um problema ao fazer a leitura.

Jason é um personagem fantástico. Um homem que não sabe quem é, mas que aos poucos vai descobrindo habilidades que colocam todos que entram no seu caminho (e a ele mesmo) em perigo, que vai revelando facetas de sua personalidade que o assustam, que se vê em um buraco negro (e cada vez mais fundo) de perguntas cujas respostas precisa encontrar enquanto foge para salvar a própria vida. Tudo isso enquanto conta apenas com seus instintos, já que não pode confiar nas pessoas que surgem em seu caminho porque que cada uma delas pode estar guardando uma ameaça. E é justamente devido a essas pessoas e às habilidades que vai descobrindo ter, que Jason passa a se perguntar que tipo de homem ele era anteriormente e, até mesmo, se era bom ou mau.

A narrativa em terceira pessoa nos coloca ao lado de Jason, de forma que acompanhamos todas suas dúvidas e temores e nos perguntamos constantemente: “Quem é esse cara?”. E é por isso que ter conhecimento prévio da história pode atrapalhar – e muito! – a experiência de leitura, já que o grande mérito de Ludlum é o mistério que cerca Bourne. Ao menos para mim, saber quem ele foi e como se tornou o sujeito que caiu naquela confusão era muito mais interessante do que descobrir o que aconteceria com ele.

“Os assassinos tinham certeza daquilo que ele apenas suspeitava – ele não podia procurar a polícia. Para Jason Bourne, todas as autoridades tinham que ser evitadas...Por quê? Elas estariam também procurando por ele?" (LUDLUM, 2011, p. 78).

E não admira que foi feito um filme baseado no livro. Na verdade, me parece que a história de Bourne é uma daquelas que funciona muito melhor nas telas do que nas páginas. A ação ininterrupta e as inúmeras cenas de lutas e perseguição funcionam muito bem quando temos efeitos e atores dando vidas a elas, mas quando se trata das páginas de um livro e essas mesmas cenas se estendem por parágrafos e parágrafos (e se repetem páginas depois), a sensação é de vazio. O que no começo é empolgante, logo se torna cansativo, parecendo mais adereço do que conteúdo. Cansa também o excesso de descrição vazia que Ludlum emprega, daquele tipo que se preocupa tanto em desenhar um cenário que deixa muito pouco para a imaginação (além de, claro, atrasar o ritmo dos acontecimentos).

É verdade que, em meio às muitas cenas de perseguição, Bourne está sempre descobrindo algo sobre si, mas isso deixa a sensação de uma colcha de retalhos costurada por “uma perseguição aqui, uma revelação ali”. Em alguns momentos eu tinha a impressão de que essas muitas cenas serviam apenas para distrair o leitor da falta de aprofundamento da trama. É claro que Jason vai recebendo as respostas aos poucos e que uma pista lhe leva à outra e mais outra, mas isso também deixa a trama um tanto confusa já que as muitas peças que surgem não se encaixam a nada.

Além de enxugar a história, o roteiro do filme teve condições de corrigir aspectos em que Ludlum peca, entre eles, o romance entre Jason e Marie que soa forçado e exagerado na obra original. Marie é uma mulher que foi feita de refém, que acredita que aquele homem é a pior coisa que já lhe aconteceu, mas que ao ser salva por ele de um estupro (uma situação na qual ela só foi parar porque ele lhe sequestrou para usá-la de escudo humano) passa a ver nele as mais magnânimas das intenções e se recusa a seguir seu próprio caminho por se dizer completamente apaixonada. E tudo isso por um homem que ela conhece há uma semana e sobre o qual não sabe absolutamente nada (até porque ele mesmo não sabe nada sobre si).

A Identidade Bourne” tem potencial, mas para ser um entretenimento de duas horas e não uma leitura que lhe exigirá dias de dedicação (principalmente porque há mais páginas do que seu conteúdo pede). Aparentemente, o livro estava melhor quando guardado na minha estante.

Título: A Identidade Bourne
Autor: Robert Ludlum
N° de páginas: 592
Editora: L&PM


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14 comentários:

Rubro Rosa disse...

Puxa, eu acompanhei a saga Bourne no cinema,inteirinha! E vou confessar que também acredito que tenha funcionado melhor assim,na tela do que nas páginas!
Sei lá, eu penso que por ser algo mais voltado para ação, o visual ajude muito mais a se centrar no enredo e a escolha do ator também para o papel colaborou muito,já que é um ótimo ator!
Eu nunca senti muita vontade de ler o livro não...mas quem sabe algum dia, eu mude de ideia!
Beijo

Miriã Mikaely disse...

Oi, tudo bem?
Eu acho muito legal quando a gente acaba se surpreendendo com um livro que julgamos não ser tão bom assim. Eu nunca ouvi falar desse livro, nem no personagem, mas já me animou saber que a história funciona.

Beijo
http://www.capitulotreze.com.br/

Ycaro Santana disse...

Sempre temos aquele livro decorando a estante há anos, e nade de lermos. Inclusive, esse post me incentivou a resgatar um encalhado. Bom, não conhecia esse livro e também não me lembro de já ter visto o filme, mas achei a trama evolvendo Bourne muito legal, um livro muito ágil repleto de cenas de ação e aventura aliado a uma narrativa que me lembra Blindspot e, se não me engano, Encruzilhada, onde o protagonista busca descobrir a verdade sobre sua vida, visto que não lembra de nada. Gostei!

Gabriela CZ disse...

Sabe que levei anos para descobrir que A Identidade Bourne era adaptado de um livro, Mari? E tinha vontade de ler, mas como pelo visto funciona melhor nas telas vou ficar só com os filmes mesmo. Ótima resenha.

Beijos!

Ludyanne Carvalho disse...

Hahaha isso é verdade, mas pretendo ler todos que tenho na estante.
Não sabia que tinha livro, só sabia da existência do filme - mas nunca assisti.
E confesso que não é uma leitura do meu agrado.

Beijos

Monique Fonseca. disse...

Às vezes cenas de ação me cansam até mesmo no filme,por serem longas demais,explosões demais, confusão demais rsrs,acho que eu também não gostaria do livro.

https://euhumanaefinita.blogspot.com/

Nana Barcellos disse...

Oi Mari,
Não sabia que tinha livro.
Na verdade, nem acompanho muito esses filmes, só to ainda curiosa pra assistir o último que saiu porque tem a Alicia Vikander.
Uma pena essas ressalvas, nossa e ainda com essa quantidade de páginas. As vezes as adaptações se saem melhor.

até mais,
Canto Cultzíneo

Unknown disse...

Ola Mari, tudo bem?
Te entendo quanto aos livros na estante que viram decoração, de tanto tempo que estão la. Achei que a sinopse do livro é perfeita mesmo para um filme de ação, assim como ja existe. Acho que eu me interessei mais pelo filme.
Beijos

Jessica Andrade disse...

Oi Mari,

Não sabia que tinha o livro, e confesso que não leria no momento.
Acho que fico só com o filme mesmo.
Bjs e um bom fim de semana!
Diário dos Livros
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Casos Acasos e Livros disse...

Oi, Mari!
Eu nem sabia que era era livro.
E eu nunca vi os filmes do Bourne, hahahahaahaha,
Devo ser a única pessoa no mundo. Mas nada contra, eu queria ver, mas simplesmente nunca vi.
Realmente, às vezes cenas de mais de ação cansa a gente. Algumas coisas são melhores cinematograficamente...
E que romance doido é esse, gente? Acha que o cara é um príncipe porque ele a salvou de um quase estupro que ele mesmo causo? Bizarro.

Beijoooos

www.casosacasoselivros.com

Ana I. J. Mercury disse...

Gostei da ideia do livro, mas livros de ação me dão muito sono.
Apesar disso, pela sua resenha, fiquei curiosa para ler.
Acho que vou assistir o filme primeiro, e se gostar, leio o livro também.
bjs

Carolina Santos disse...

A sua resenha foi bem sincera que eu gosto disso é muito ruim quando você dedica todo tempo a ler um livro e ele acaba se mostrando uma grande decepção

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Nesse ano também vou ler os livros parados na minha estante.
Assisti ao filme e não sabia que existia o livro, uma pena um enredo tão bom no livro ser extenso.
Mesmo com essa ressalva ainda é uma leitura válida, espero que quando tiver oportunidade para ler não fique pensando muito no filme.
Beijos

Edberto disse...

Tentei ler o livro, mas como foi falado na resenha, ele é muito cansativo, longo e com uma narrativa inverossímil. O filme conseguiu resolver todos os problemas do livro e dar uma “cara” para os personagens e cenas de ação. Ótima resenha

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