segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

RESENHA: A Mão Misteriosa

Certa vez li uma reportagem que incluía uma lista dos dez livros que Agatha Christie considerava seus melhores. Entre eles, clássicos como “O Assassinato de Roger Ackroyd”, “O Caso dos Dez Negrinhos”, “Assassinato no Expresso do Oriente” e livros não tão famosos como “A Mão Misteriosa”. Sendo este o único dentre os eleitos pela Dama do Crime que eu ainda não havia lido, tratei de tirá-lo logo da estante e conferir mais um exemplar de sua engenhosidade.

Após um acidente, Jerry Burton e sua irmã, Joana, se mudam para a pequena cidade de Lymstock, onde se supõe que nada de emocionante acontece. Mas pouco tempo após a sua chegada, um deles recebe uma misteriosa carta anônima de tom bastante ofensivo e logo descobrem que há tempos o mesmo tem acontecido com vários moradores locais. Quando um suicídio decorre de uma das cartas, o assunto na cidade já não é outro que a identidade do maldoso escritor.

Cartas anônimas em uma cidade pacata onde todos se tornam suspeitos. Esse é o tipo de premissa que Agatha Christie sabe explorar melhor do que ninguém, transformando uma fórmula simples em um livro que faz o leitor elaborar mil teorias e não querer largá-lo até descobrir se alguma delas está certa.

A autora narra a história pelo ponto de vista de Jerry Burton que revisita os acontecimentos depois que o mistério já teve fim. A visão de Jerry é perfeita para a história já que, como recém-chegado em Lymstock, o personagem não tem vínculos anteriores com os moradores do local, permitindo ao leitor ter suas primeiras impressões sobre eles com base nas dele.

“Nesse caso, meu conselho à polícia seria: estudem a personalidade. Deixem de lado suas impressões digitais, o estudo da caligrafia e seus microscópios. Em vez disso, observem o que as pessoas fazem com as mãos, seus pequenos tiques, o modo como se alimentam, e se às vezes riem sem motivo aparente.” (CHRISTIE, p.154, 2012)

Já li mais livros de Agatha Christie do que posso contar, mas sempre me admira como não consigo evitar terminar essas leituras sem um sorriso no rosto. Não importa quantas de suas tramas já tenhamos lido, de alguma forma Agatha sempre surpreende porque é impossível prever todos os seus truques. Em “A Mão Misteriosa” desenvolvi uma teoria por volta da página 70 e ao longo da leitura fui me convencendo de que a autora tentava desviar a minha atenção daquilo, mas que eu estava sendo esperta e captando suas artimanhas. Nem sei se posso chamar de surpresa ver Agatha revelar nas últimas páginas algo que eu nem havia cogitado, tão envolvida estava com a minha própria teoria (que em nada estava certa, diga-se de passagem).

A revelação, como quase sempre nos livros de Agatha Christie, é simples e estava ali para ser vista desde o início. Em um dado momento, Miss Marple diz que cometer um assassinato é como realizar um truque de mágica: tudo gira em torno de fazer a pessoa olhar para a coisa errada, no lugar errado. Alguma dúvida de que a Dama do Crime conhecia alguns truques de ilusionismo?

E por falar em Miss Marple, a participação da personagem foi a única coisa que me desagradou na história. Só o fato de ela aparecer pela primeira vez depois da página 160 mostra sua irrelevância para a trama. Miss Marple não participa dos acontecimentos, apenas aparece para desvendar o mistério graças ao seu conhecimento da natureza humana. Me pareceu uma participação desnecessária, pois a história funcionava muito bem sem a personagem e o mistério poderia ter sido descoberto de outras maneiras.

Não considero “A Mão Misteriosa” uma das melhores histórias de Agatha Christie, mas é uma típica história da autora, recheada com muito do que ela sabe fazer melhor do que ninguém.

Título: A Mão Misteriosa
Autora: Agatha Christie
Nº de páginas: 223
Editora: L&PM

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10 comentários:

Rubro Rosa disse...

Puxa, mesmo já tendo lido muitos livros da Diva, sendo muito sincera, nunca tinha ouvido ou lido nada a respeito desta obra.
E que título intrigante..rs só lendo a resenha para entender o que de fato significa.
Miss Marple é genial, mas é triste ler que ela só deu o ar da graça ali, simplesmente por estar ali, já que o bacana é ir vivendo sua genialidade e astúcia(e bom humor também)
Mesmo assim, se puder, com certeza, quero muito desvendar mais este mistério!!
Beijo

Espiral de Livros disse...

Oi Mari, tudo bem? Não é à toa que Agatha Christie é a Dama do Crime, realmente ela tem um repertório e criatividade de deixar qualquer leitor fascinado pelas histórias que cria. Faz um tempo que não leio os livros dela e gostaria muito de ler algum que não conheço e esse resenhado me interessou bastante. Pode ser um ótimo reencontro com essa minha autora favoritada há tempo.
Beijos, Adri
Espiral de Livros

Ycaro Santana disse...

Eu sou muito curioso para ler alguma obra da dama do crime, na sua resenha assim como em outras é possível perceber o quão encantados os leitores ficam por sua escrita e desenvolvimento de narrativas. Essa proposta me deixou muito curioso, principalmente num cenário minúsculo (que me lembrou O Vilarejo), onde todos são suspeitos. Quero ler!

Gabriela CZ disse...

Nunca tinha ouvido falar desse, Mari. Mas me deixou ainda mais curiosa, pois se até livros menos famosos da Agatha Christie são tão instigantes devo fazer algo logo para lê-los. Ótima resenha.

Beijos!

Unknown disse...

Muito bom👍

Unknown disse...

Olá.
Eu li apenas O Assassinato no Expresso do Oriente, e não me recordo muito da história, mas me lembro de ter ficado bem surpresa com a revelação do assassino. Fiquei curiosa para este livro dela.
Beijos

Ana I. J. Mercury disse...

Adorei sua resenha, e agora preciso lê-lo pra hoje!
Tô curiosíssima pra descobrir todo o mistério.
Confesso que nem todos da Agatha gosto, mas, é isso.
Tem alguns dela que amei, outros não, mas vida que segue kkkk ainda quero ler seus livros.
bjs

Carolina Santos disse...

Esse livro se mostra uma grande surpresa para mim que mesmo sendo fã da autora conseguiu ser surpreendidas novamente com essa história maravilhosa para te conhecer é simplesmente dona de todo o mundo

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Li muitos livros de Agatha mas esse ainda não conhecia.
Ela tem o dom de nos prender no livro, criamos teorias, pensamos em outras possibilidades, mas não conseguimos desvendar o que estava na frente dos nossos olhos o tempo todo.
Espero poder ler o livro, estou mega curiosa.
Beijos

Unknown disse...

Eu acho que o real motivo da história fosse deixar o real assassino livre. Megan pra mim, é a autora da trama toda. Abandonada e deixada de lado, largada. Tinha motivos para mandar as cartas. O primeiro assassinato acho que foi seu padrasto sim, mas apenas aproveitou a oportunidade (pois ele poderia ter chegado pouco depois de a mae da Megan ler a carta e ter aproveitado dando a dose exagerada pra ela do tal remédios que ela tomava todo santo dia) Acho que a coitada da empregada viu a Megan colocar a carta na caixa de correios e Megan sabia que ela estava em casa, só não sabia que a coitada ia começar a desconfiar e querer conversar com a empregada de Jerry. Tanto que ela estava na casa deles quando a empregada deles disse que a coitada da empregada (depois assassinada) queria tirar uma dúvida com a mais velha. Tanto que Megan do nada decidiu voltar para casa (para matar a coitada). Outro ponto que me intriga: já que o padastro é tão inteligente (além de seus conhecimentos por ser advogado) ele nunca teria guardado as armas de crime. NUNCA.
Sem contar que no final do livro Megan aparece lá pra chantagear o cadastro e tals pois tinha visto o mesmo colocar a dose exagerada pra mãe dela. Mas ela não tinha saído quando a mãe morreu?!
Pra mim o motivo dessa história foi de uma menina que sempre foi largada, deixada de lado e subestimada tomar tanto ódio e começar as cartas, quando viu sua mãe ser assassinada ela poderia impedir de a mar tomar, mas ela não o fez, matou de novo quando foi descoberta, mas conheceu o amor, o personagem principal mostrou afeto,amor e preocupação fazendo com que a Megan se sentisse importante de verdade dando assim a culpa total a seu padastro e tentando levar uma vida diferente, sendo uma pessoa melhor, amando e sendo amada.

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