sexta-feira, 8 de março de 2019

RESENHA: Reparação

Reparação / Ian McEwan / Desejo e Reparação
Há anos assisti o filme “Desejo e Reparação” e desde então tenho vontade de conferir este que é considerado um dos melhores livros de Ian McEwan. Uma pena já conhecer de antemão o desfecho da história.

Aos 13 anos, Briony é uma menina criativa e cheia de imaginação que sonha em ser escritora. No verão de 1935, ela está encenando com os primos uma peça de sua autoria a fim dar as boas vindas ao irmão que vem visitá-los. Entre um ensaio e outro, ela testemunha uma cena que não compreende: Cecília, sua irmã mais velha, tira a roupa e mergulha de calcinha e sutiã na fonte do jardim, na presença de Robbie, o filho da arrumadeira que foi criado junto com elas. Ao sair da fonte, Cecília parece furiosa. Por que Robbie teria obrigado sua irmã a fazer tal coisa? O episódio dá início a uma série de mal entendidos que irá marcar a família para toda a vida.

Narrado sem pressa e sempre buscando se aprofundar nos sentimentos dos personagens, “Reparação” se divide em quatro partes. Na primeira, acompanhamos o verão que irá mudar a vida de todos. Um narrador onisciente nos mostra as visões de Briony, Cecília e Robbie, de maneira que entendemos a participação de cada um nos acontecimentos e também as impressões que passam aos outros.

É ao montar esse quebra-cabeças que McEwan se revela brilhante porque não se trata de uma história sobre verdades absolutas e sim sobre versões. É incrível como o autor nos permite entender o que está acontecendo entre Cecília e Robbie, mas também compreender a linha de raciocínio de Briony e porque uma série de infortúnios acabam sendo deturpados devido a inocência da menina. É nesta primeira parte que a história de “Reparação” acontece. Aqui temos os eventos, os sentimentos intensos, as ações. O resto do livro traz as consequências.

“Não eram só o mal e as tramoias que tornavam as pessoas infelizes; era a confusão, eram os mal-entendidos; acima de tudo, era a incapacidade de apreender a verdade simples de que as outras pessoas são tão reais quanto nós.” (McEWAN, 2017, p.37)

Na segunda e terceira partes vemos dois personagens no contexto da Guerra: Robbie, que apresenta a visão do soldado, e Briony (agora aos 18 anos), a visão da enfermeira. Aqui podemos ver como os acontecimentos daquele verão foram responsáveis por trilhar o caminho que os personagens seguiram. Nestes trechos, que constituem quase metade do livro, a guerra deixa de ser um cenário e passa a ser o centro dos acontecimentos. Ataques, bombas, suturas e ferimentos passam a dividir o espaço com os conflitos dos personagens em uma abordagem que, confesso, me decepcionou.

Na quarta parte, reencontramos Briony, agora com setenta anos, ainda enfrentando as consequências das suas atitudes. Como eu já conhecia a história através do filme, é claro que o final não teve o mesmo efeito, mas ainda assim acredito que McEwan poderia ter explorado mais a carga das revelações que guarda para a última página.

Briony é uma personagem maravilhosa. Imaginativa e impetuosa, ela divide os sentimentos do leitor porque sabemos que ela é bem intencionada, mas ao interferir em algo que não lhe diz respeito ela provoca consequências terríveis. É um erro que poderia ter sido evitado, mas é um erro honesto. O que a torna ainda mais humana é a maneira como lida com suas próprias atitudes a partir do momento que tem condições de compreendê-las. Ela cresce e isso basta para que seu tormento tenha início.

“Reparação” é uma grande história, protagonizada por personagens intensos, e que gera uma série de reflexões a respeito do impacto das pequenas coisas e da influência que uma pessoa pode ter na vida da outra. Para mim, foi uma leitura de altos e baixos, mas é sem dúvida uma daquelas histórias que nunca esquecemos.

Título: Reparação
Autor: Ian McEwan
N° de páginas: 269
Editora: Companhia das Letras
Exemplar cedido pela editora

Compre: Amazon
Gostou da resenha? Então compre o livro pelo link acima. Assim você ajuda o Além da Contracapa com uma pequena comissão.

6 comentários:

Rubro Rosa disse...

Não consegui me recordar que filme é este, por isso, já me propus a ir atrás hoje mesmo e descobrir.
Já tinha ouvido e lido muito a respeito do trabalho do autor e por tudo que li acima, é nítido que a fama dele não é a toa né?
Um enredo realmente como um grande quebra cabeças.
Por isso, o livro vai para a lista de desejados!
Beijo

Gabriela CZ disse...

Já li comentários sobre o livro e sobre o filme, Mari. Quero conferir a trama, e pelo seu relato irei ao livro primeiro. Ótima resenha.

Beijos!

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Ainda não li nada do autor, mas quero muito conhecer sua escrita.
Sobre o filme vi falar quando foi lançado mas não assisti, procurei o trailer para ver e tenho certeza que é emocionante, porém triste como na leitura do livro.
Vai para a lista de desejos, beijos!

RUDYNALVA disse...

Mari!
Não tive oportunidade nem de ler o livro, nem de assistir o filme, mas acredito que é daqueles que mexe com 'as intenções' sociais, de como pensamos sobre determinado fato que nem sabemos o porquê e nos faz repensar nossas posturas.
Deve ser interessante.
cheirinhos
Rudy

Larissasm disse...

Ai, ainda bem que ainda não assisti o filme, lerei o livro antes, sem dúvidas. Essa parte realista das histórias, onde pequenas atitudes e simples mal entendidos acabam gerando consequências na vida das pessoas é o que mais me atrai. Essa é a realidade, as vezes cometemos erros, até mesmo honestos como você mesma disse Mari, e no fim saber lidar e conviver com eles. Essa resenha definitivamente me fez colocar esse livro na lista de leituras de 2019 rs. Obrigada pela dica!!

Ana I. J. Mercury disse...

Mari,
só conhecia o livro de nome, e adorei sua resenha.
Parece ser um livro intenso, forte e cheio de reviravoltas.
Fiquei bem curiosa para saber de tudo kk
bjs

Postar um comentário

 

Além da Contracapa Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger