segunda-feira, 17 de junho de 2019

RESENHA: A Casa Assombrada

Após perder o pai, Eliza Caine se vê sem opções e acaba aceitando o emprego de governanta em Gaudlin Hill. Porém, quando chega à propriedade, encontra duas crianças, Isabela e Eustace, e nenhum outro adulto. Eliza fica confusa com a situação, sem saber onde estão os pais das crianças que moram sozinhas, e tudo piora quando estranhos acontecimentos começam a assolá-la dentro da casa. 

Boyne, que é mais conhecido por seus romances históricos e livros juvenis, se aventurou em outro gênero: terror. A Casa Assombrada já parte de um dos maiores clichês do gênero: uma propriedade assombrada. Também fica clara a referência ao livro A Volta do Parafuso, de Henry James, que também conta com uma governanta e duas crianças que enfrentam entidades sobrenaturais. 

Ainda assim, apesar do clichê e da clara homenagem a James, Boyne faz um trabalho fantástico. Minha sensação foi de que o autor jogou luz sobre um assunto batido, de modo a conseguir explorar a funda suas diversas outras facetas. Ou seja, o clichê unidimensional virou um prisma, repleto de ângulos e facetas.  

Dessa forma, apesar de ter como premissa uma casa assombrada, o livro não se limita a isso. Acompanhamos toda a jornada de Eliza, seu processo de luto pela perda recente do pai, sua evolução e amadurecimento com pessoa. Além disso, Boyne vai aos poucos mostrando a estória de Isabela e Eustace e, principalmente, a de sua família, de modo que vamos juntando as peças até entender como as crianças estão naquela situação. É por todo esse desenvolvimento que acredito que A Casa Assombrada seja um drama com elementos sobrenaturais e de terror, pois estes não são o cerne da estória. 

Porém, mesmo não sendo o elemento principal, a verdade é que Boyne soube muito bem manter o leitor com o coração na boca. Apesar das assombrações não serem tão frequentes e nem mesmo originais para quem já está familiarizado com a literatura de terror, o autor aproveitou cada momento, conseguindo transmitir o medo e a angústia da protagonista com as situações sobrenaturais. 

“[...]. Somos todos animais sob nossas peles, srta. Caine? Mascaramos nossos instintos com palavras bonitas, roupas e comportamento aceitável? Dizem que, se nos entregássemos aos nossos desejos verdadeiros, avançaríamos uns sobre os outros com uma sede de sangue sem precedentes, todos nós.” (BOYNE, 2015, p. 142)

Outro aspecto que eu adoro nos livros do Boyne é o desenvolvimento dos personagens. É incrível como o autor consegue criar pessoas tão complexas, que se tornam praticamente reais na mente do leitor. E o mais surpreendente é perceber que até personagens que tem uma participação pequena na estória são bem desenvolvidos. Ao contrário de muitos autores que se limitam a dar um nome e uma profissão, Boyne compõe personagens verossímeis, pessoas com trajetórias de vida, as quais  explicam suas ações e formas de pensar. 

Já falei milhares de vezes como a narrativa do autor é envolvente e, mais uma vez, ele repetiu o feito. Fico abismado com sua capacidade de fazer o leitor mergulhar de cabeça em suas estórias e desejar retornar a superfície apenas no final. E falando em final, as últimas páginas são feitas de pura adrenalina e o desfecho surpreende, porém, não sei se agradará a todos os leitores. 

Apesar de não considerar o melhor livro do autor, A Casa Assombrada certamente foi um dos melhores livros de terror que li e prova definitivamente que John Boyne é um autor que consegue transitar por diferentes gêneros com maestria. 

Título: A Casa Assombrada
Autor: John Boyne
N.º de páginas: 291
Editora: Companhia das Letras
Exemplar cedido pela editora

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7 comentários:

Rubro Rosa disse...

Acho isso tão maravilhoso:Quando vemos algo bem fora da caixa do que um autor já é conhecido.
Admiro demais o trabalho do autor, mas confesso que nunca tinha imaginado ele criando algo assim,mais voltado para o sobrenatural.
Realmente isso de mergulhar na vida real dos personagens é algo fabuloso e como uma marca registrada, mas a parte do sobrenatural é totalmente nova!
Com certeza, o livro vai para a lista dos desejados!
Beijo

Bianca Aguiar disse...

Olá!

Gostei muito da resenha! Há tempos quero ler um livro de John Boyne mas até agora não tive oportunidade. Acho muito legal quando um autor se aventura por diferentes gêneros e não se prende a uma coisa só. Fiquei supresa ao ver que ele consegue fugir dos clichês de histórias de casas assombradas. É uma tarefa difícil convenhamos haha

Beijos

http://nebulosadeflores.blogspot.com

Rayane B. de Sá disse...

Oiii ❤ Apesar de eu não ser muito fã do gênero terror, preciso dizer que esse livro chamou a minha atenção. Gosto quando autores pegam uma ideia já muito usada e criam cenas bem originais.
Acho legal quando autores que estão acostumados a escrever um gênero, se aventuram em outro. Acho fascinante quando isso acontece.
Uma coisa que me agrada muito em livros são personagens bem construídos, já gostei menos de alguns livros por falta de aprofundamento em quem os personagens são. Fico feliz que John Boyne conseguiu criar uma boa personagem.
Obrigada pela indicação ❤

Rayssa Bonai disse...

Olá! Não gosto de terror, mas fiquei intrigada com este. Estou muito curiosa para saber como as crianças chegaram a situação em que se encontram. Nossa, adorei o fato de Boyne desenvolver tão bem seus personagens, acho esse um fator muitooo importante para o desenvolver da trama. Gosto bastante de tramas com personagens complexos. Adorei a resenha! Beijos!

Ana I. J. Mercury disse...

Gosto muito dos livros do Boyne, mas confesso que esse fiquei com medo kkkkk não leio nada de terror kkkk
Mas parece ser uma obra bem trabalhada, com personagens cativantes e realistas.
Além de o autor ter trabalhado a emoção deles também.
Quando eu tiver coragem, lerei kkk
Bjs

Luana Martins disse...

Oi, Alê
Nossa é tão maravilhoso quando um autor que gostamos escreve vários gêneros e a admiração só aumenta.
Não li nada do autor, mas cada resenha que leio aqui no blog fico muito curiosa para ler algum livro dele.
Esse enredo tem mistério que faz o leitor ficar preso até o fim do livro, e depois ter a sensação de estar sendo observada também.
Beijos

Gabriela CZ disse...

Pasma e com vontade de ler, Alê. Nunca imaginei tanta originalidade com clichês. Ótima resenha.

Beijos!

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