sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

RESENHA: A Mão Esquerda da Escuridão

Genly Ai foi enviado ao gelado planeta Gethen com a missão de convidar seus governantes a se juntarem a Ekumen, uma comunidade universal que reúne mais de 80 planetas. No entanto, Genly é humano demais e, mesmo após anos de estudo, não consegue compreender toda a riqueza e a complexidade da cultura daquele povo. 

O livro é narrado em primeira pessoa por Genly, relatando sua missão, alternado com relatórios de outros visitantes e de lendas locais. A opção pela primeira pessoa me pareceu acertada, pois sentimos na pele todo o estranhamento que o protagonista sente. No entanto, creio que em alguns momentos a autora pesa a mão nas descrições, o que torna a leitura um pouco cansativa.

A Mão Esquerda da Escuridão é baseada no choque entre mundos. Ao mesmo tempo em que o universo vive uma utopia, experimentando o progresso e a cooperação entre os povos, Genly se vê jogado em um mundo com nações com intensas rivalidades e que o enxergam com desconfiança. 

Mas a principal diferença do povo de Ghelen diz respeito ao gênero: trata-se de uma raça andrógena que, ao entrar no período reprodutivo, desenvolve os órgãos sexuais necessários para aquele momento. A autora desenvolveu de forma extremamente original as consequências deste aspecto em toda a estruturação da sociedade, sendo que as reflexões sobre este assunto certamente são o ponto alto do livro. 

“Considere: qualquer um pode trabalhar em qualquer coisa. Parece muito simples, mas os efeitos psicológicos são incalculáveis. O fato de toda população, entre dezessete e trinta e cinco anos de idade, estar a sujeita a ficar (como Nim definiu) ‘amarrada à gravidez’ sugere que ninguém aqui fica tão completamente ‘amarrado’ como, provavelmente, ficam as mulheres em outros lugares – psicológica ou fisicamente. Fardo e privilégio são compartilhados de modo bem igualitário; todos tem o mesmo risco a correr ou a mesma escolha a fazer. Portanto, ninguém aqui é tão completamente livre quanto um macho livre, em qualquer outro lugar.” (LE GUIN, 2019, p. 103)

Mas apesar de ser o ponto alto, as reflexões de A Mão Esquerda da Escuridão também são seu calcanhar de Aquiles. Isso porque fiquei com a impressão que a autora teve mais interesse em desenvolver tais discussões, deixando a estória em segundo plano. Tanto é assim que preciso admitir que não senti uma conexão com o protagonista, nem com os demais personagens. 

A Mão Esquerda da Escuridão é um clássico da ficção científica e Ursula K. Le Guin certamente foi uma escritora a frente do seu tempo, visto que há 50 anos já questionava os papeis de gênero que nos são impostos pela sociedade e sua obra nos faz imaginar um mundo sem tais delimitações. Ainda assim, apesar de toda a genialidade e crítica social, admito que o livro não me envolveu o quanto eu desejava. 

Título: A Mão Esquerda da Escuridão
Autora: Ursula K. Le Guin
Editora: Aleph
N.º de páginas: 304
Exemplar cedido pela editora

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7 comentários:

Gabriela CZ disse...

Achei a trama curiosa, Alê. Mas fiquei realmente interessada nas reflexões, mesmo que a autora tenha errado a mão. Quero ler. Ótima resenha.

Beijos!

Nícolas Rodrigues disse...

Pretendo comprar por conta das reflexões pois me interessou bastante. Abraços

Rubro Rosa disse...

Ficção científica não é lá meu forte, eu sou lerda demais, mas este clássico eu já li muita coisa boa e também não tão boa a respeito.
As reflexões parecem sim, muito interessantes, mas isso de ter deixado a história de fato de lado, não foi uma boa ideia.
Mesmo assim, se tiver oportunidade, quero sim, poder conferir em algum momento!!!
Beijo

Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

Elizete Silva disse...

Olá! Esse é um gênero do qual não sou muito fã, sempre acho os enredos um pouco confusos e cheios de detalhes que dão um nó na minha mente, essa parece abordar vários temas interessantes e atuais, mesmo tendo sido escrito há tanto tempo, que dá até aquela vontade de me arriscar na leitura.

Luana Martins disse...

Oi, Alê
Não conheço a escrita da autora, mas tenho interesse em ler algo dela.
Mesmo que tenha algumas ressalvas o enredo tem reflexões e críticas bem interessantes.
Vai para a lista de desejos, beijos.

Giovanna Talamini disse...

Olá!
Ultimamente estou adorando temáticas como essa, mas ainda estou com um pézinho meio fora da ficção científica, mas juro que um dia vou entrar para esse mundo também!

RUDYNALVA disse...

Alê!
Na minha adolescência tive oportunidade de ler esse livro e como era aficcionada em ficção científica, fiquei deslumbrada com a leitura.
Quero ter a oportunidade de fazer a releitura desse livro e ver se minha sensação continua a mesma.
cheirinhos
Rudy

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