“— Poder revelado é poder sacrificado. — disse Setrakian. — Os verdadeiros poderosos exercem sua influência de maneiras invisíveis e imperceptíveis. Alguns dizem que uma coisa visível é uma coisa vulnerável.” (DEL TORO; HOGAN, 2010, p. 101).
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Distanciando-se de quase todos os livros do gênero, Del Toro e Hogan voltaram as origens e criaram vampiros monstruosos e predadores. No segundo volume da Trilogia da Escuridão, a caçada continua, mas a pergunta que fica é: quem é a caça e quem é o caçador?
ATENÇÃO: a sinopse (parágrafo abaixo) CONTÉM SPOILERS do livro anterior. O restante da resenha é SPOILER FREE.
O vírus responsável pela transformação vampiresca tomou o mundo. E quanto mais vampiros se alimentando do sangue humano, mais o vírus se alastra. O governo permanece em estado de negação e começa a entrar em colapso, seja pela falta de mão-de-obra em todos os serviços públicos, seja pela onda de vandalismos e saques. Convencido de que somente poderão vencer esta batalha quando de fato conhecerem seu inimigo, Setrakian está decidido em pôr as mãos em um raro livro.
Em A Queda, os autores comprovam mais uma vez que possuem criatividade suficiente para criar uma mitologia vampiresca original e complexa, que somente começa a ser compreendida em sua totalidade a partir deste volume. Aliás, creio que as respostas e elucidações dadas sobre os mortos-vivos foram um dos pontos altos do livro.
E quem roubou a cena no segundo livro foi o velho professor Abraham Setrakian, não apenas por seu conhecimento prévio sobre a praga ou por seu passado destinado a caçar tais seres malignos, mas por assumir o comando da resistência. Por sua vez, o virologista Ephraim, originalmente o protagonista da série, afundou nas sombras do outro personagem, assumindo uma posição de coadjuvante.
Como no livro anterior, Del Toro e Hogan utilizam-se de inúmeros pontos de vista para contar a estória. Apesar de alguns autores conseguirem utilizar a troca de ponto de vista como forma de fisgar a atenção do leitor, imagino que o número reduzido de eventos importantes para o desenrolar da trama de A Queda tornou tal recurso obsoleto. Não há uma ascensão de cenas eletrizantes que justifiquem a constante quebra da narrativa, de modo que ir de um ponto morno para outro ponto morno tornou a leitura monótona e até mesmo cansativa.
Felizmente, a obra empolga nas ultimas cem páginas, não apenas em ação e adrenalina, mas sobretudo com o desenvolvimento da trama em si, colocando os personagens em situações limites. O desfecho me pegou desprevenido e, sinceramente, ainda não consegui definir se foi do meu agrado. Talvez tenha sido audacioso demais, mas apenas o último volume da série poderá responder.
Encerrei a leitura com a impressão de que, se Noturno é a introdução da série, A Queda é uma ponte para a sua conclusão. Embora tenha sido interessante compreender mais a fundo toda a mitologia criada, bem como ver o protagonismo de Setrakian, fiquei com dúvidas se era de fato necessário três livros para contar a estória que os autores se propuseram.
De toda a forma, a expectativa para Noite Eterna é alta, e espero que os autores consigam explorar ao máximo todos os elementos deixados para o último volume. Como já disse na resenha de Noturno, a estória tem tudo para se tornar uma saga memorável. Agora, tudo depende da execução.
A série The Strain, inspirada na Trilogia da Escuridão, estreou nos Estados Unidos em julho, no canal FX. Para quem ficou curioso, não deixe de assistir ao trailer.
Autores: Guillermo Del Toro e Chuck Hogan
N.º de páginas: 349
Editora: Rocco