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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

RESENHA: Antes de partir desta pra uma melhor

“Em um dado momento, a solidão se torna mais um hábito do que um problema. Com o tempo, você deixa de olhar para o telefone e se perguntar por que não consegue pensar em alguém para quem ligar, deixa de cortar o cabelo, deixa de fazer exercícios, deixa de pensar que amanhã é o primeiro dia do resto da sua vida. Porque amanhã é hoje, e hoje é ontem, e ontem você ficou assustado e arrasado. A única maneira de permanecer são é deixar de esperar por algo melhor.” (TROPPER, p. 16, 2015)

“Que merda é essa?” é uma pergunta que surge a todo tempo na vida de Drew Silver, um ex-rockstar que desde que a banda se separou e sua esposa o largou, vive em um condomínio onde moram outros homens divorciados, toca em ocasionais festas de casamento e, no geral, apenas vê a vida passar. E não bastasse o fato de a ex-mulher estar de casamento marcado e sua filha adolescente estar grávida, Silver tem um derrame que o deixa com a inconveniente sequela de não conseguir controlar a língua e verbalizar pensamentos que nunca deveriam ser ditos em voz alta (como o fato de que ele ainda é apaixonado pela ex e a filha não contou para ninguém, exceto ele, que está grávida). Em meio à confusão de sua vida, ele decide não fazer a cirurgia que poderia salvá-lo e aproveitar o tempo que lhe resta para consertar seu relacionamento com a filha e tornar-se um homem melhor.

Com uma narrativa divertida, irônica e sensível, “Antes de partir desta pra uma melhor” consegue um feito raro: aliar melancolia e bom humor. Seu narrador onisciente transita pelas angústias de cada um dos personagens, explorando todos a fundo. Nessa história, ninguém é vilão ou mocinho. Todos tem sua cota de erros, estão cientes deles e se obrigam a conviver com as consequências de suas decisões.

No centro de tudo está Silver, um sujeito que perdeu o controle da vida. Do jeito como as coisas estão, nada parece valer a pena, mas ele já não sabe como fazer para que seja diferente. Já não sabe como consertar os relacionamentos antigos e acredita que não vale a pena trazer nenhum novo para a vidinha que leva. Se é assim, então para que fazer uma cirurgia? Para que continuar vivendo?

Ao contar com um grupo de personagens verossímeis, um autor consegue criar as mais diversas dinâmicas entre eles e é isso que Tropper faz. Entre Silver, sua filha (que está em uma situação complicada com a gravidez, nunca teve uma figura paterna e não quer se decepcionar com o pai mais uma vez), sua ex-mulher (que está feliz com outro homem, mas guarda mágoas pelo fim do casamento e não sabe o que fazer diante da possível morte do pai da sua filha) e o noivo da ex-mulher (que agora também é médico de Silver) milhares de linhas se criam e se cruzam e a história ainda abre espaço para os pais de Silver e os vizinhos do condomínio. Tudo isso partindo de uma premissa que poderia ser melodramática e clichê (homem que se afastou de todos tenta consertar a vida agora que está prestes a morrer) caso o autor não fosse hábil em construir essas personalidades. Outra habilidade de Tropper é explorar essas histórias com naturalidade de forma que o leitor nem perceba que tantas coisas estão se desenvolvendo ao mesmo tempo, em um espaço de narrativa relativamente curto.

“Antes de partir desta pra uma melhor” pode não ter a mais marcante das tramas, mas ao criar personagens nos quais o leitor consegue acreditar e simplesmente deixá-los viver suas histórias como pessoas reais vivem um dia após o outro, Tropper conseguiu um bom resultado. O final em aberto,deixa um gostinho bittersweet, mas me pareceu adequado à intenção do personagem (consequentemente da trama). 

Com capítulos curtos que conferem agilidade à leitura, um texto que consegue ser divertido sem deixar de ter sua profundidade e personagens com problemas perfeitamente cotidianos, “Antes de partir desta pra uma melhor” foi o meu primeiro contato com a obra de Jonathan Tropper. Pretendo conferir outros livros do autor em breve.

Título: Antes de partir desta pra uma melhor (exemplar cedido pela editora)
Autor: Jonathan Tropper
N° de páginas: 251
Editora: Arqueiro

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

RESENHA: Sete Dias Sem Fim

“Sou obrigado a sorrir, embora eu sempre me irrite com a evidente incapacidade da nossa família de expressar emoção em momentos dramáticos. Não existe ocasião solene ou tensa que os Foxmans não consigam minimizar com a maior rapidez usando suas capacidades geneticamente desenvolvidas de ironia e fuga.” (TROPPER, 2013, p. 5).

***

A sinopse de Sete Dias Sem Fim apontava para a reunião de vários elementos distintos, os quais poderiam compor um livro muito bom ou um livro muito ruim. Sem meio termo. Apostei na primeira opção e, felizmente, acertei.

E se você descobrisse que sua mulher o traía com seu chefe? E se você perdesse o emprego enquanto vê seu casamento desmoronar? E se, logo após, seu pai morresse? E se o último desejo do morto fosse que a família cumprisse a shivá, o ritual de luto judeu com duração de sete dias? Seja bem vindo a vida de Judd Foxman.

Mas fique tranquilo. Você não irá encontrar um personagem amargurado. Judd pode ser muitas coisas, mas não é aquele tipo de pessoa que fica remoendo os acontecimentos e procurando quem é o culpado. Pelo contrário. O adjetivo que melhor lhe descreveria seria espirituoso.

Por outro lado, advirto-lhe que o livro é narrado por um homem iludido, decepcionado e emocionalmente inepto (para usar suas próprias palavras), então não espere por uma visão romântica dos fatos. O autor narra os eventos do ponto de vista de Judd, sem utilizar de eufemismos ou de outros artifícios do gênero.

Esta mistura de um narrador espirituoso mas sem papas na língua origina um livro hilário. Além disso, todos os membros da família Foxman tem suas peculiaridades, o que gera situações inesperadas, constrangedoras ou embaraçosas a todo momento.

Todavia, em uma análise mais aprofundada, Sete Dias Sem Fim não se limita apenas a risadas, visto que Tropper, de maneira sutil, conseguiu inserir na estória temas complexos e densos, tais como morte, luto, divórcio, família e amor. E são estas pitadas filosóficas o diferencial do livro.

O cerne da obra poderia ser resumido em apenas uma palavra: recomeço. Acompanhamos uma emocionante jornada de autoconhecimento e de reconciliações, que mostra ao leitor que, independentemente das circunstâncias, todos devemos e podemos recomeçar uma nova vida. 

Uma trama aparentemente simples, mas repleta de significados implícitos. Personagens comuns, mas verossímeis. Uma narrativa crua, mas sensível. Um livro tão paradoxal quanto a vida real, que me surpreendeu a cada capítulo e que certamente será relido.  

Título: Sete Dias Sem Fim (exemplar cedido pela Editora Arqueiro)
Autor: Jonathan Tropper
N.º de páginas: 295
Editora: Arqueiro
 

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