quarta-feira, 23 de maio de 2018

RESENHA: Sempre vivemos no castelo

Sempre vivemos no castelo - Shirley Jackson
Quando a editora Suma de Letras lançou “Sempre vivemos no castelo”, dando início às publicações da obra de Shirley Jackson no Brasil, confesso que o nome da autora não me disse nada. Foi só ao descobrir sua influencia nas obras de autores como Stephen King (que inclusive dedica a ela o seu “A Incendiária”) e Neil Gaiman que a obra me despertou interesse.

Antigamente, o casarão dos Blackwood costumava ser o lar de muitos habitantes. Afinal, todos os membros da família acabavam indo morar lá. Mas agora ele é o refúgio apenas de Mary Katherine, sua irmã Constance e seu tio Julian. Isso porque há seis anos todo o resto da família morreu envenenado durante um jantar. Constance foi acusada pelo crime (afinal ela havia preparado a refeição e o veneno estava, justamente, em algo que ela não comia), mas mesmo tendo sido absolvida pelo tribunal, não conseguiu o mesmo por parte da comunidade. Agora, os três vivem em seu mundinho, longe de tudo e de todos o máximo possível. Até a chegada do primo Charles.

A história é narrada por Mary Katherine (a quem Constance chama, carinhosamente, de Merricat) que já revela no primeiro parágrafo, em um tom surpreendentemente despreocupado, a tragédia que se abateu sobre a família. A personagem revela também os seus 18 anos de idade. Não fosse isso, seria fácil acreditar que se trata de uma menina de 10 ou 12 anos, afinal, a voz narrativa e mesmo algumas das atitudes da protagonista são mais condizentes com uma criança. Isso, porém, é um aspecto interessante que já revela o foco psicológico do livro de Jackson. Merricat tem 18 anos hoje, mas tinha 12 quando a tragédia aconteceu e, em muitos aspectos, sua vida parou naquele momento e passou a girar em torno dele.

“Eu pensava em Charles. Poderia transformá-lo em mosquito e jogá-lo numa teia de aranha e vê-lo enredado e indefeso e se debatendo, preso no corpo de um mosquito agonizante; poderia desejar sua morte até que ele morresse. Poderia amarrá-lo a uma árvore e deixá-lo lá até que virasse tronco e a casca cobrisse sua boca. Poderia enterrá-lo na cova onde minha caixa de moedas de prata estivera segura até ele chegar; se estivesse debaixo da terra eu poderia andar sobre ele pisando forte.” (JACKSON, 2018, p. 119)

Definir a história de “Sempre Vivemos no Castelo” não é tarefa fácil. Por mais que a tragédia seja fundamental na trama, não é para saber o que aconteceu que continuamos a virar as páginas (tanto que quando isso é revelado, acredito que sejam poucos os leitores que realmente se surpreendam). Da mesma forma, os acontecimentos presentes são escassos. Assim, a constante que temos são os próprios personagens, principalmente Merricat, cujo comportamento é bastante intrigante.

Outro ponto forte é o relacionamento entre as duas irmãs. Para Merricat, Constance é todo o seu mundo. Já Constance mima a irmã mais nova como se ela se ela ainda fosse uma criança. A vida no casarão é uma bolha na qual só cabem elas duas, sem espaço nem mesmo para o tio Julian. Ele é apenas mais um sobrevivente que ficou por ali. O próprio título, a meu ver, faz uma relação a isso. Elas são as rainhas deste castelo. Sempre foi assim. Sempre será. Além disso, também vejo uma conotação de contos de fada, de delírio e de sonhos. 

Mas preciso confessar que não encontrei em “Sempre Vivemos no Castelo” a experiência que eu imaginava. Por mais que eu aprecie (e muito!) quando um autor deixa parte da história nas entrelinhas, senti falta de algo que costurasse a trama e desse forma a ela.

Outra coisa que me incomodou foi um comentário que consta na sinopse dessa edição e que me deixou encasquetada com uma revelação que estava por vir. Se era para ser surpresa, não sei, mas para mim foi óbvio desde as primeiras páginas.

“Sempre vivemos no castelo” é um livro estranho, que vale mais pelo estudo de personagem do que pela trama em si, e que, confesso, não me deixa curiosa para conferir outros livros da autora.

O livro foi adaptado para o cinema, com Taissa Farmiga no papel principal.

Título: Sempre vivemos no castelo
Autora: Shirley Jackson
N° de páginas: 200
Editora: Suma de Letras
Exemplar cedido pela editora

Compre: Amazon
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13 comentários:

Daiane Araújo disse...

Oi, Mari.

A época derivada e esse cenário carregado e misterioso, meio sombrio, chama muita a atenção do leitor, pois juntando com o mistério que permeia a trama, aguça mais a curiosidade...

Ao mesmo tempo, com o decorrer dos acontecimentos, aquela dúvida entra em cena, quanto a possível inocência da Constance, que não me parece ser muito passível e complacente.

Por ter esse toque de mistério, que eu gosto muito, o livro me instigou a lê-lo.

Nessa disse...

Oi Mari
Eu não sabia do que se tratava o livro. Tinha curiosidade pela capa que me chamava atenção, mas o enredo não me conquistou.

Beijinhos
diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br

Gabriela CZ disse...

Sou curiosa por esse livro, Mari. Mais pela trama que pela autora, e seus comentários me deixaram mais curiosa. Ótima resenha.

Beijos!

Nicole Longhi disse...

Acho que a maioria das resenhas que vi deste livro, estavam no meio porque não conseguiam decidir se o livro era bom ou ruim.
Eu gostei bastante do cenário em que se passa, e pelo mistério que possui.
Quero ler para poder tirar minhas próprias conclusões.

beijinhos
She is a Bookaholic

Na Nossa Estante disse...

Oi Mari, tudo bem? Lá no blog quem leu foi uma colaboradora e ela curtiu o livro, realmente parece que tem personagens interessantes, mas, de qualquer forma, é sempre bom não criar muitas expectativas!

BJs, Mi

O que tem na nossa estante

Alice Duarte disse...

Oiii Mari

Ja ouvi va´rias resenhas muito de acordo à tua, que é aquele livro que deixa sentimentos mistos pois tem uns pontos que deixam o leitor meio confuso / perdido, faltam coisas. Sei lá, o livro é tão curtinho, poderia ter tido mais páginas para explicar melhor certas coisas, mas fazer o quê né?

Beijos

www.derepentenoultimolivro.com

RUDYNALVA disse...

Mari!
O livro foi lançado antes de eu nascer, bacana! Nasci em 1965.
Difícil viver de passado e se trancar em uma redoma, não permitindo que a atualidade e a realidade se façam presentes.
O mundo pela visão de Mary parece bem ilusório e confuso, fico me perguntando se ela não tem algum distúrbio psicológico?
Agora todo livro que traz reflexão sobre a vida, acredito que valha a pena ler, pois podemos questionar nossos pontos de vista.
Maravilhoso final de semana!
“O meu objetivo é colocar no papel aquilo que vejo e aquilo que sinto da mais simples e melhor maneira.. “(Ernest Hemingway)
cheirinhos
Rudy

Maah disse...

OI Mari.
Você encontrou a melhor definição para este livro "estranho".
Essa foi uma leitura que eu gostei bastante, mas que também me deixou muito confusa também, eu gostei da relação de amizade entre as irmãs, apesar de ambas serem muito estranha, essa capa é linda e a premissa me chamou a atenção desde o começo, porém até hoje sinto, que não captei tudo o que a história queria passar, e pretendo muito em breve, reler o livro.
Bjs.

Blog Livros e Ideias da Drica disse...

OI, Mari!

Essa história, apesar de não estar bem arrematada, como você colocou na Resenha, é bem perturbadora. Fiquei de cabelo em pé de saber que quase toda a família foi envenenada e só restou "no Castelo", das irmãs Mary Katherine e Constance, além de Tio Julian (que é tratado, meio de escanteio). Eu fiquei interessada em saber sobre o enredo. Às vezes, mesmo quando a resenha não é muito positiva, a gente acaba se surpreendendo, espero que seja para mim!Eu também nunca li essa autora. Tenho um e-book dela sobre a Casa da Colina, parece promissor!
Ótima resenha!
Grande abraço,
Drica.

Giovanna Talamini disse...

An-nyong-ha-se-yo!
Fiquei sabendo da autora nessas últimas semanas, justamente por ela servir de inspiração para o King! Tenho muito interesse em ler ''A Assombração da Casa da Colina'' dela.

Luana Souza disse...

Fiquei com aquela sensação de duvida se esse livro é bom ou ruim. Acho que o forte da história são realmente os personagens, fiquei intrigada com esse envenenamento da família mas principalmente com tudo que a Mary passou. Mas ainda assim não foi um livro que me chamou atenção para a leitura.

Ana I. J. Mercury disse...

Não conhecia o livro ainda, e achei chato.
Uma história meio sem graça e sem desenvolvimento, parece que é mais pra refletir sobre como essa tragédia mudou e criou uma rotina na vida dessas personagens.
Não lerei, não.
bjsss

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Gosto da premissa da história e parece ser um livro bem diferente da minha zona de conforto. Adorei a indicação!!
Bjos

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