terça-feira, 31 de julho de 2018

RESENHA: O Mundo Segundo Garp

Há anos tinha curiosidade de ler algum livro de John Irving, mas apenas criei vergonha na cara quando vi que John Boyne — um dos meus autores favoritos da atualidade — não apenas havia dedicado o incrível As Fúrias Invisíveis do Coração para Irving como também citava o autor e O Mundo Segundo Garp por diversas vezes durante a obra. Com o aval de Boyne, mal podia esperar para conhecer a estória de Garp. 

Garp é o filho bastardo de Jenny Fields, uma enfermeira que sempre desejou ter um filho, mas que nunca teve a intenção de se envolver com um homem. Anos depois ela escreve sua autobiografia e acaba se tornando uma líder feminista. Garp, que desde sua adolescência desejava ser escritor, vê sua carreira literária ser ofuscada pelo best-seller da mãe. 

A primeira observação que sou obrigado a fazer é que a sinopse que você leu no parágrafo acima é bastante simplória, sendo que a complexidade da trama e o medo de dar spoilers me impedem de ir além. O Mundo Segundo Garp é típico livro que segue a jornada de um personagem, mas Irving fez isso de forma bastante inovadora. Primeiro, conhecemos a vida de Jenny e sua família, entendemos sua visão de mundo e as circunstâncias da concepção de Garp. Em seguida, vemos o crescimento e amadurecimento do menino criado por uma mãe “excêntrica”. Por fim, vemos Garp formando sua própria família, desenvolvendo o papel de marido, pai e escritor. 

Assim, como o livro cobre um longo período de tempo, é natural que haja uma sucessão de personagens, que terão sua importância em momentos específicos da trama. Creio que o fator que mais me chamou atenção nesse ponto é como tudo parece muito orgânico e natural, como a aproximação dessas pessoas com Garp é verossímil e parece retratar a vida real. Mas creio que esse grande número de coadjuvantes teve um efeito colateral: a trama se tornou um pouco pulverizada e com muitas estórias paralelas (apesar de que, verdade seja dita, todas elas se concatenavam com a estória do protagonista).

“— A tolerância para com os intolerantes é uma tarefa difícil que os tempos que correm exigem de nós – dizia Helen.” (IRVING, 2013, p. 531)

O Mundo Segundo Garp foi publicado pela primeira vez em 1978 e continua surpreendentemente atual. Na verdade, creio que no momento de sua publicação o livro deve ter sido considerado como muito à frente de seu tempo, pois abordava assuntos polêmicos como adultério, feminismo, transexualidade, entre outros. E, a meu ver, o autor fez um excelente trabalho ao mostrar nossas intolerâncias e preconceitos. 

O texto de Irving é envolvente e ele consegue despertar a curiosidade do leitor a todo instante com sua forma peculiar de storytelling. Aliás, creio que a melhor definição para O Mundo Segundo Garp seria a de uma estória improvável escrita de uma forma inventiva. Entretanto, confesso que em alguns momentos o autor se tornava detalhista demais, especialmente com eventos que eram de pouca importância para o desenvolvimento da trama. 

Encerrei a leitura sem saber exatamente quais haviam sido minhas impressões. Vi um texto muito bom, apesar de alguns excessos descritivos; personagens construídos com esmero; uma trama extremamente original e criativa; além de despertar diversas reflexões. Porém, ao mesmo tempo senti que faltou um algo a mais, talvez uma conexão maior com o protagonista, algo que me fizesse importar mais com sua jornada de vida. Assim, apesar de todas as suas qualidades, O Mundo Segundo Garp não me impactou como eu esperava. 

Título: O Mundo Segundo Garp
Autor: John Irving
N.º de páginas: 607
Editora: Rocco
Exemplar cedido pela editora

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14 comentários:

Vitória Pantielly disse...

Olá Alê,
Não é uma obra que me desperta tanto interesse, e sabendo que faltou aquele "tchãn" a mais para transformar em uma ótima leitura, bem, menos ainda.
A história é mesmo bem natural, um homem que primeiro é ofuscado, e depois passa a tomar as rédeas de sua vida, não é uma trama tão complexa... Sobre os vários personagens, eu tenho que dizer que gosto, mas quando todos eles são bens construídos!
Beijos

Aléxia Macêdo disse...

Alê, primeiro parabéns pela resenha. Não é fácil quando temos que escrever a resenha de um livro sobre o qual não podemos falar muito para não dar spoiler e você conseguiu fazer isso muito bem.

Eu me interessei bastante pelo livro, adoro tramas que trazem foco de relações familiares, e esse de mãe e filho parece ser muito boa! Fiquei bastante curiosa.

Os Delírios Literários de Lex

Ana I. J. Mercury disse...

Oi Alê,
também tenho vontade de ler algum livro do Irving.
O mundo segundo Garp, parece muito bom. Com uma sinopse simplória mesmo, mas também, que traz muita curiosidade.
Gosto de livros assim, que narram sobre vários anos da vida do personagem, apesar de que algumas vezes fica cansativo.
Acho que vou lê-lo sim, em breve.
bjs

Evandro Atraentemente disse...

Também não li nada do Irving. Enredos que se passam em longos períodos de tempo e acompanham a transformação dos personagens realmente deixam uma sensação de vazio, afinal muitas pessoas acabam ficando para trás. A trama é interessante e imagino que lidando com temas tão delicados como aborda, tenha provocado na época muitos comentários. Fiquei bastante interessado.

Sil disse...

Olá, Alê.
Eu não conhecia esse autor ainda, mas se é recomendado pelo Boyne, vou querer ler. Mas não sei se começaria por esse livro. Apesar da trama ser algo que gosto, que é acompanhar anos de vida de alguém ou de alguma família, essa em especial não chamou muito a minha atenção.

Prefácio

Tamires Marins disse...

Oi, Alê

Que pena que o livro acabou não sendo aquilo qur você esperava. Mas pelo menos certos aspectos da narrativa lhe agradaram, o que compensa.
Eu costumo gostar bastante de histórias com essa pegada mais realística e com diversos coadjuvantes, então creio que esse segundo aspecto não me incomodaria.
No mais, é um livro que foge um pouco do que eu costumo ler, mas leria. Rs

Beijos
- Tami
https://www.meuepilogo.com

Luana Martins disse...

Olá, Alê
Não tinha conhecimento sobre o livro e nem do autor.
Difícil quando lemos um livro de tantas páginas com muitos personagens e o mesmo não nos agrada tanto assim.
Gosto dos temas abordados neste livro, mas não tenho tanto interesse em ler.
Beijos

Nicole Longhi disse...

Já ouvi falar bastante do autor, porém nunca tive contato com sua escrita.
Parece ser um livro com uma trama bem legal e achei legal os personagens serem feito com esmero, mas um pena que tenha faltado algo a mais e não tenha te impactado como esperava.

beijinhos
She is a Bookaholic

RUDYNALVA disse...

Alê!
Interessante ver um livro cheio de grandes qualidades, mas que ainda assim, ficou um pouco a desejar.
Confesso que livros com muitas personagens me causam um pouco de dispersão, embora goste dos detalhes nas descrições.
“A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável.” (Mahatma Gandhi)
cheirinhos
Rudy
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Ycaro Santana disse...

Foi uma leitura longa. Mas nunca cansativa. O mundo segundo Garp cria personagens por demais, reais. Inevitavel não se ver envolvido com a historia de toda uma família. Ao passar dos anos no livro, é como se realmente “passasse” um longo tempo também para o leitor. Consegui envelhecer e entender as atitudes das personagens junto com elas.

Alice Duarte disse...

Oiii Alê

Tem livro que apesar de todas as qualidades simplesmente não consegue arrebatar a gente por completo, entendo bem isso. Talvez tanto esmero tenho deixado o personagem e sua história um pouco pesado, ou pode ser que não rolou mesmo conexão. Eu leria o livro, principalmente porque é muito fora da minha zona de conforto e me parece ser uma história que enriquece a gente como leitor, nos convida à refletir. Vou anotar a dica e quando sentir que estou no momento pra livros assim, acho que vou arriscar com esse.

Beijos

www.derepentenoultimolivro.com

Felipe disse...

Oi Alê, tudo bem?
Ainda não conhecia esse, valeu pela dica!
Blog Entrelinhas

Gabriela CZ disse...

Também me sinto devendo uma leitura de John Irving, Alê. E essa me parece imprescindível. Ótima resenha.

Beijos!

Ignez M disse...

Fui até o fim do livro meio por masoquismo. O tempo todo me perguntava: qual é a essência desse livro? Onde ele quer chegar? Não descobri. Apesar do longo palavrório descritivo - e muitas vezes desnecessário - os personagens são mais delineados por essas longas descrições do que pelo desenvolvimento da trama. E a trama é beeem chatinha. E a gente ainda tem que aguentar o narcisismo do escritor com seus "livros dentro do livro". Mais: o primeiro texto de Garp, que é citado o tempo todo como uma obra-prima, é tão chato quanto. Não recomendo.

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