terça-feira, 21 de maio de 2019

Game of Thrones e como o final influencia a percepção de toda estória

Conversa de Contracapa é coluna off topic do blog Além da Contracapa. Sem limitação temática, iremos explorar todo e qualquer assunto relacionado ao mundo da literatura. 

O Além da Contracapa é e sempre foi um blog exclusivamente dedicado a literatura. Porém, abri uma exceção para o final de Game of Thrones, não apenas por ser uma série inspirada em livros que adoro, mas também por conta da repercussão que o mesmo teve. A essa altura do campeonato, você já deve saber que muita gente não gostou do final. E isso me levou a questionar: até que ponto o desfecho influencia na nossa percepção da história?

Depois de oito anos, 73 episódios, inúmeros reis e rainhas, batalhas sangrentas e mortes terríveis, o fenômeno da HBO chegou ao fim. Porém, a última temporada de Game of Thrones não foi ovacionada como as anteriores, pelo contrário, fãs e crítica não esconderam sua decepção, principalmente em relação ao último episódio da série.

Se alguém me perguntasse se aquele era o final que eu queria, admito que não era. Ainda assim, o desfecho não me pegou desprevenido. Ao longo da temporada, fica claro o caminho que os personagens estão trilhando e qual será o resultado dele. A meu ver, foram pelo menos três episódios (de uma temporada com seis) que focaram exclusivamente nos personagens, mostrando seus relacionamentos, suas ambições, seus medos, suas qualidades e defeitos. Dessa forma, o episódio final manteve a coerência não apenas da temporada, mas da série inteira.

Talvez, tenha sido essa mudança de enfoque que desagradou os fãs. Game of Thrones sempre foi a série que nos empolgou com as reviravoltas mais inesperadas, com batalhas de prender o fôlego, com alianças inusitadas e traições que alteravam todo o curso da estória. E creio que na última temporada a dinâmica era outra. As alianças já estavam formadas, as batalhas já estavam desenhadas, as reviravoltas já não faziam mais sentido. Mais do que nunca, a série investiu nos personagens, no passado que carregavam e no futuro que desejavam construir. E isso é visível até mesmo nos episódios que giram em torno de batalhas.

Creio que o sucesso e o engajamento que a série alcançou também tenha sido um dos motivos para críticas tão duras. Nos envolvemos tanto com a estória e com os personagens que chegamos a criar teorias, tomar lados e até mesmo discutir. Game of Thrones foi tão intenso que, de certo modo, também vivemos naquele universo e nada mais natural do que criar expectativas. E a partir do momento que a expectativa foi rompida, não importava o rumo que os produtores seguissem, nada iria agradar uma parcela dos fãs, nada iria aplacar sua frustração, por mais que a coerência tivesse sido mantida.

Apesar de ter desejado desesperadamente outro final, achei as críticas injustas. Não sabemos até que ponto os produtores seguiram o final planejado por Martin mas, de qualquer forma, creio que ele seja um dos autores mais brilhantes da nossa geração. Ele teve coragem, ousadia e genialidade para criar uma saga tão complexa que duvido muito que qualquer outro autor conseguisse chegar perto de sua criação. Criticar sua estória é criticar um homem que deu à luz a estes personagens há quase trinta anos, que convive com eles diariamente e que certamente os conhece melhor do ninguém.

Se você acha que o erro recai sobre os produtores, ressalto que eles também tiveram a tarefa hercúlea de adaptar para a televisão uma saga épica. Era impossível adaptar tudo o que estava nos livros, tanto é que ao longo da série diversos aspectos foram alterados. E, sinceramente, aprovei a maioria das alterações: elas tornaram a série mais ágil e dinâmica, deixando de fora alguns detalhes que não eram tão importantes para o desenvolvimento da estória. Outro desafio enorme deve ter sido encerrar uma estória criada por outra pessoa, tendo apenas uma noção do final, mas sem saber exatamente como chegar lá. De qualquer forma, se você está no grupo que não gostou da adaptação, lembre-se que ela é apenas isso: uma adaptação. Procure pela obra original e aguardemos pelo desfecho que Martin está desenvolvendo.

Para encerrar, creio que Game of Thrones pode nos servir de lição em dois aspectos. Primeiro, temos que aprender a controlar nossas expectativas, mesmo quando o próprio seriado ou livro estabelece para si um padrão muito alto. Como disse antes, se a expectativa não for atendida, a frustração é o único resultado garantido. Além disso, não acho justo menosprezar toda a genialidade e originalidade do seriado por causa de um episódio ou até mesmo de uma temporada. Game of Thrones nos mostrou que a jornada importa sim, afinal, foi somente por causa dela que chegamos até o capítulo final. E sejamos sinceros: foi uma jornada gloriosa.

Apesar de não ter sido o final apoteótico que muitas esperavam, aprovei o desfecho de Game of Thrones e entendi todas as opções trilhadas pelos produtores. E mais importante que isso: ao longo dos 73 episódios, vivi em uma montanha russa de emoções, chorei, ri, pulei do sofá, me surpreendi e gritei mais vezes do que poderia imaginar. E não há nada que vai apagar as emoções vivenciadas até aqui.


PS: em respeito aos leitores que não assistiram ao ultimo episódio, favor não dar spoilers nos comentários. Comentários com spoilers serão apagados. Caso queira discutir sobre algum aspecto específico do final, você é mais do que bem vindo a nos contatar em nossas redes sociais ou email. 


6 comentários:

Rubro Rosa disse...

Então....rs
Vou começar esse comentário com uma frase que condiz com o que senti no dia:
Que merda!
Mas não há como negar e nem cuspir no prato que foi comido por tantos anos.
Got é a série mais bem feita de todos os tempos. Desde a primeira temporada, já era nítido a empatia que causaria, os engasgos, os nós na garganta.
Todo o cenário, os personagens, o jeito único que era mostrado dia a dia que não deveríamos nos apegar a nenhum personagem.
Got marcou uma geração, não tem como fugir disso e se formos resumir tudo, saiu sim, tudo bem ao estilo George.
Poderia ter sido diferente? Aham! Mas não foi. Ponto final.
Tudo que foi feito nestes oito anos merece nosso aplauso!!!!
Beijo

Ludyanne Carvalho disse...

Amei o post!
Fica claro que você pode sempre fazer algo bom, mas um passo em falso e tudo de bom será esquecido.
Não assisti e nem li essa série, mas li muitos comentários sobre.
De fato, a expectativa atrapalha muito.

Beijos

Anônimo disse...

Oi, Alê!

Eu assisti a um ou dois episódios da série e nunca li os livros, apesar de vários amigos dizerem que eu iria gostar, mas concordo com você: se a série em geral foi ótima, não se pode apagar tudo isso só porque o final foi ruim (ou não tão bom quanto deveria ter sido). O problema é que a gente coloca grandes expectativas em séries e livros, o que pode atrapalhar tudo quando acontece algo muito diferente do esperado. Isso é inevitável mesmo.
Adorei o post!

Beijocas!
http://artesaliteraria.blogspot.com

Ana I. J. Mercury disse...

Adorei seu texto, Alê!
E concordo com você!
Não foi o final que eu queria, e confesso que fiquei beeeeem desapontada.
Mas, é isso.
Os erros dessa última temporada não apagam os momentos incríveis das outras.
bjs

Luana Martins disse...

Oi, Alê
Gostei muito deste post, mas bem diz o ditado se nem Jesus agradou a todos imagina os produtores do seriado. Concordo com você eles merecem muito respeito porque terminar uma série que nem acabou nos livros é complicado.
Não li os livros mas comecei assistir a série ainda estou na primeira temporada e estou gostando.
Agora é só esperar mais um pouco para saber o que o autor fará no livro.
Beijos

Gabriela CZ disse...

Não acompanhei Game of Thrones mas creio que em todo final de grande séries ocorre essa frustração em massa, Alê. Provavelmente porque as pessoas querem que termine do jeito que elas teorizaram, e é impossível ter o final que cada um quer. Eu tendo a esperar pra ver o que escritores armaram, e geralmente gosto dos fins. (Com exceção de Dexter. rs) Mas deixar o fim estragar a jornada é algo que só depende de nós. Ótimo post.

Beijos!

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