quinta-feira, 20 de junho de 2019

RESENHA: Os Impunes

os impunes
Billy é um policial do turno da noite, acostumado a lidar com todas as encrencas da madrugada. Mas antigamente ele patrulhava as regiões mais violentas de Nova York na companhia de seus amigos, um grupo de policiais que se auto-intitulava Gansos Selvagens. Ao longo dos anos, cada Ganso ganhou uma Branca: um criminoso que escapou impune e que atormentaria para sempre a consciência do policial que não conseguiu puni-lo. Agora que a Branca de um dos Gansos foi encontrada morta, uma trilha de vingança e redenção tem início. 

“Os Impunes” é um livro de rua. O autor deixa os personagens viverem de acordo com a rotina do dia e não pensando nas funções que deveriam assumir a favor da trama. Assim, a história se molda de maneira orgânica e imprevisível. 

Ainda dentro dessa abordagem “de rua”, a característica mais marcante de “Os Impunes” é, sem sombra de dúvida, os diálogos. Vívidos, fortes, coloquiais e totalmente fieis à verdade desses personagens que vivem a tensão das ruas. Esse pode, facilmente, ser um tiro que sai pela culatra, mas que Harry Brandt desenvolve com maestria. Eu considero extremamente irritante quando um autor tenta forçar uma coloquialidade nos diálogos que fere os ouvidos que leitor que, afinal de contas, está lendo e não ouvindo em uma mesa de bar. É preciso que haja um equilíbrio entre as características do texto escrito e o diálogo falado nas ruas e nisso “Os Impunes” é uma aula sobre como deve ser feito. 

“Fico aqui mandando gente três ou quatro vezes por semana se encontrar com Jesus Cristo ou sei lá quem, mas...sabe no que eu acredito? Na terra. No chão. Nisto aqui mesmo. O resto é historinha.” (BRANDT, 2017, p. 342)

A narrativa acompanha Billy na maior parte de tempo. É através dele que iremos conhecer sua família e também cada um dos Gansos. Mas mesmo que Billy seja o protagonista, eu consigo enxergar facilmente a história pelo ponto de vista de cada um dos outros personagens, pois eles parecem reais a esse ponto. É aqui que entra novamente a questão da organicidade da trama. Sim, Billy está no centro de tudo, mas apenas porque as lentes estão focadas nele. Ele não é o centro da história porque a história em si é a vida. São as ruas. Cada um é o centro de acordo com o ângulo que se olha. Neste caso, o autor escolheu Billy. 

A trama é composta de vários pequenos casos, mas usa deles não como fonte de mistério para ser desvendado e sim como uma forma de mostrar o impacto que os crimes podem ter na vida dos policiais. 

Uma jogada interessante é que, de tempos em tempos, a narrativa introduz capítulos intitulados como Mário Ramos, cujo enfoque está neste personagem. O curioso é que não sabemos como Ramos será inserido nos acontecimentos já que, mesmo sendo policial, não faz parte do grupo nem parece conhecer nenhum dos Gansos, vivendo uma trama totalmente paralela. É aos poucos que vamos entendendo o que está por trás deste personagem e o que leva Harry Brandt a construir duas tramas diferentes dentro da mesma história. 

Confesso que “Os Impunes” não é um livro tão eletrizante quanto eu esperava (parte da minha expectativa vinha de saber que Dennis Lehane, um dos meus autores favoritos, é fã de Richard Price, o nome por trás do pseudônimo Harry Brandt), mas é uma narrativa vivida como poucas vezes encontramos por aí. Um livro policial não só pela trama que desenvolve, nem pelos personagens a que dá vida, mas também por fazer o leitor se sentir nas ruas, no frio da madrugada, ouvindo os barulhos dos disparos, pronto para correr a qualquer momento, caso necessário. 

Título: Os Impunes 
Autor: Richard Price, sob o pseudônimo de Harry Brandt 
Nº de páginas: 426
Editora: Companhia das Letras

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6 comentários:

Rubro Rosa disse...

Ainda não tinha visto ou lido nada sobre este livro,mas fiquei bem curiosa em relação ao enredo.
Trazer personagens crus, reais, e de quebra, o cenário(que acaba sendo um personagem principal também)é uma proposta muito diferente do convencional.
A rua é palco de vida, de medo, de sustos, de encontros e desencontros.
Com certeza, se tiver oportunidade quero sim, conferir a obra!!!
Beijo

Rayane B. de Sá disse...

Oiii ❤ Essa parece ser uma ótima leitura. Gosto bastante de livros reais, que falam da realidade, de como é a vida das pessoas.
Ainda não tinha ouvido falar desse livro, mas agora que sei sobre o que se trata a trama, fiquei interessada em ler. Nunca li um livro que fala sobre a realidade de policiais, por isso, seria legal ler.
Gostei que, como você disse, o autor usa bem a coloquialidade, sem parecer forçado. E que ele consegue construir duas histórias ao mesmo tempo, fascinante como ele consegue fazer isso.
Obrigada pela dica de leitura ❤

Rayssa Bonai disse...

Olá! Nossa, adorei a premissa! O que mais chamou minha atenção acerca da história, é o fato de o escritor ter criado duas tramas na história, achei isso muito bem pensado, porque isso com certeza desperta a curiosidade no leitor em saber o que as duas tramas têm em comum. A narrativa parece bem vívida mesmo, adoro livros em que a gente se sente parte da história e do cenário onde ela se desenvolve.
Com certeza vou adicionar esse livro na minha lista de leituras! Obrigada pela indicação! Beijos!

Ana I. J. Mercury disse...

Mari, não conhecia o livro nem o autor, e achei beeeem curiosa essa narrativa.
Parece ser fluída e bastante cativante. Daqueles livros que não largamos até chegar à última página.
Mas a trama em si não me chamou a atenção, não é mesmo do tipo que curto. Acho que nao lerei.
Bjs

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Não conhecia o livro e nem o autor. O livro tem uma capa interessante.
Gostei que o autor trouxe uma linguagem coloquial sem estar forçada e retratando a realidade de alguns policiais.
Os Impunes parece ser uma trama sobre o poder do passado sobre nossas vidas, e como isso nos afeta.
Quero muito poder ler, beijos!

Gabriela CZ disse...

Não conhecia, Mari. Parece bem profundo, mas não sei se é meu estilo. Ótima resenha.

Beijos!

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