quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

RESENHA: A Parábola do Semeador

Desde que li Kindred – Laços de Sangue, que foi uma das minhas melhores leituras de 2018, desejava ler outros livros de Octavia Butler. O escolhido foi A Parábola do Semeador, o primeiro livro de uma duologia distópica, que se passa nos Estados Unidos onde uma crise econômica e ambiental levou a civilização ao caos. Filha de um pastor, Lauren não consegue compartilhar da fé de seu pai, mas isso não a impede de ter fé em outras crenças. Quando ela perde sua família e acaba fugindo para sobreviver, tem início uma jornada que a acaba conduzindo a criação de uma nova religião.

O início de A Parábola do Semeador é arrastado. A sensação que eu tive foi que Butler iniciou a escrever tendo apenas uma premissa em mente, mas sem saber exatamente qual estória tinha para contar. E, assim, os primeiros capítulos patinam, não conseguindo prender a atenção do leitor. Tanto foi assim que confesso que quase cheguei a abandonar a leitura de tão entediado que estava. 

Mas, após insistir por mais alguns capítulos, pude sentir uma leve melhorada. A estória deixa de ser uma coletânea de episódios isolados e passa a ter um objetivo mais claro. No entanto, a jornada de Lauren não causou o impacto devastador que senti lendo Kindred e que tanto ansiava vivenciar novamente. Por um lado, a estória em si não empolga, visto que a trama é bastante linear e limita-se a levar os personagens do ponto A ao ponto B. Ainda mais grave que isso é a falta de carisma dos personagens, os quais não conseguem criar uma conexão com o leitor, mesmo vivendo em um mundo com o qual podemos nos identificar. 

“— É uma verdade — respondi. — A mudança é constante. Tudo muda de certo modo: tamanho, posição, composição, frequência, velocidade, raciocínio, o que for. Todo ser vivo, cada pedaço de matéria, toda a energia do universo muda de certa forma. Eu não afirmo que tudo mude de todas as maneiras, mas tudo muda de algum modo.” (BUTLER, 2018, p. 270)

O ponto alto certamente são as reflexões trazidas pela religião criada por Lauren. A protagonista prega que Deus é mudança, por que esta é a única constante em nossas vidas. Apesar da originalidade da religião e de sua profundidade, senti que Butler estava mais interessada em desenvolver tais dogmas do que em contar a estória de Lauren e de sua comunidade. 

O livro encerra sem grandes reviravoltas, me deixando com a impressão de que não eram necessárias mais de 400 páginas para o desenvolvimento da estória. Assim, apesar de até haver um possível arco para ser desenvolvido na sequência, creio que não irei me aventurar em A Parábola dos Talentos. 

Creio que minhas expectativas elevadas tenham minado minha experiência, pois o fato é que terminei a leitura de A Parábola do Semeador com um gostinho de decepção. Apesar do universo criativo e original criado pela autora, me dói admitir que a estória deixou a desejar em diversos aspectos. Ainda assim, minha admiração por Octavia Butler não diminuiu e certamente lerei os demais livros de sua autoria.

Título: A Parábola do Semeador
Autora: Octavia Butler
N.º de páginas: 416
Editora: Morro Branco

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7 comentários:

Rubro Rosa disse...

Sério?? rs
Puxa, não esperava isso de mais um livro da autora. Também considero Kindred uma de minhas melhores leituras e confesso que estava bem de olho neste livro, até pelo título da obra.
Mesmo assim que não tenha funcionado tanto a você, espero poder conferir a obra..claro, sem tantas expectativas..rs
Beijo

Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

Gabriela CZ disse...

Apesar dos comentários negativos fiquei com vontade de ler, Alê. Me interessei pela premissa. Mas confesso ter mais interesse por Kindred. Ótima resenha.

Beijos!

RUDYNALVA disse...

ALÊ!
Não conhecia a autora e gostei muito de toda ficção criada por ela, principalmente porque a distopia criada é muito parecida com nossa possível realidade em breve, onde não poderemos sair de casa sem medo (se é que já não acontece). É uma previsão de um futuro próximo e mesmo que nos assombre ao fazer a leitura, sabemos que poderá acontecer.
Miséria, fome, violência física e psicológica, drogas, escravidão, falta de emprego, ambição governamental, caos... É o que encontraremos nesse livro, mas também, esperança, fé ou crença, amor e força de vontade que impulsionarão a uma mudança.
Apesar de arrastado, gostei da leitura.
cheirinhos
Rudy

Fabiolla Devenz disse...

Não conhecia a autora nem as obras resenhada e mencionadas. Confesso que não gosto muito de ler livros com temática distópica, acho a história um pouco enrolada.
Uma pena que esse livro da autora deixou tanto a desejar, já que tive a impressão que Kindred – Laços de Sangue é um livro impressionante, e que tinha todo um enredo para dar certo.

Elizete Silva disse...

Olá! Conheci a autora no final do ano passado, justamente em uma resenha desse livro, gostei muito do enredo, apresenta um tema que, infelizmente, não está tão distante assim de fazer parte da realidade do nosso dia-a-dia, e mesmo com essa sensação de que a autora poderia ter desenvolvido melhor a história, espero ler esse e outros de seus livros em breve.

Luana Martins disse...

Oi, Alê
Não conheço a escrita da autora e claro que quero muito poder ler algum livro dela.
Li algumas resenhas, uma pena que você não gostou do livro. Quando for ler esse livro não vou criar expectativas, quem sabe assim possa apreciar mais da leitura.
O enredo do livro não está tão distante da realidade em que vivemos.
Beijos

Giovanna Talamini disse...

Olá!
Pode ser que esse livro foi escrito como um objetivo pessoal da autora de escrever uma história sobre esse tema, não para ter sido publicado. Às vezes o autor só põe as palavras para fora...

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