Então era chegado o dia do adeus. Mas, antes que nos despedíssemos oficialmente, era preciso comemorar todas as coisas maravilhosas que aconteceram ao longo desses oito anos, afinal, nós sempre gostamos de grandes comemorações e nossas festas de aniversário foram uma prova disso. Desta vez, preferimos fazer uma coisa mais íntima e não uma grande festa, pois apenas receberíamos as pessoas mais próximas. Dispensamos também os cenários grandiosos das nossas histórias favoritas e optamos por algo modesto, porém, repleto de significado. O lugar onde quase tudo aconteceu. Onde a decisão de criar o blog foi tomada e onde quase todos os posts nasceram. Dessa vez a festa seria em casa.
— Me admirei que você aceitou que eu viesse na festa, Mari — comentou John Green assim que todos se acomodaram na sala
— Nossa, John. Por quê? — perguntou ela, parando de servir uma taça de espumante e lhe olhando incrédula. — Você sabe que a gente adora você. Todo mundo sabe.
— Não sei se isso é bem verdade. Se o Alê não tivesse colocado “A Culpa é das Estrelas” na sua mão você nem teria lido. Confessa, você desprezou o livro quando ele foi lançado. — alfinetou ele.
— Isso é verdade, eu admito. Mas depois eu li todos. Aliás, li duas vezes cada um. E assisti os filmes e a série. Você não pode guardar esse detalhe minúsculo contra mim.
— Eu estou brincando com você. Eu sei que você são leitores fiéis. — retrucou ele trocando um sorriso com Stephen King.
— Já você não pode me acusar da mesma coisa, Gillian. Me joguei em “Garota Exemplar” na primeira oportunidade que tive.
— Isso aí, Mari, nós mulheres temos que nos unir — apoiou Flynn — Stephen, por favor, me alcance as tortinhas.
— E já que o assunto é quem apresentou quem, você já contou para a Agatha que foi graças a mim que você a conheceu, Alê?
— Verdade. A Mari já tinha uma longa trajetória com o Poirot e a Miss Marple quando eu comecei. Inclusive me deu um spoiler...
— Acho que não precisamos falar sobre isso — ela cortou envergonhada.
— E eu posso saber por que vocês nunca resenharam Harry Potter? – perguntou J.K. Rowling um tanto ofendida. — Até emprestei Hogwarts para a primeira festa de aniversário de vocês. E o Nightbus andante!
— É que nós já tínhamos lido todos os livros muito antes de começarmos o blog. — disse o Alê.— E se a Agatha foi a responsável por tornar a Mari uma leitora assídua, eu só desenvolvi o amor pela leitura por causa de Harry. A verdade é que se não tivéssemos conhecido vocês, provavelmente o blog nunca existiria.
— Acho que você pode perdoá-los — sugeriu King a Rowling.
— Até parece que eu poderia ficar brava com eles.
— Eu tenho curiosidade de saber qual foi a resenha mais difícil que vocês já escreveram. Teve alguma marcante? — perguntou Joël Dicker.
— Curiosamente, escrever resenhas de livros que gostamos muito sempre pareceu mais difícil. — disse Alê. — Parece que quando não gostamos do livro, sabemos exatamente o que nos desagradou e conseguimos explicar isso na resenha. Mas quando o livro é muito bom, nos envolvemos tanto na história que simplesmente esquecemos a razão, então sempre foi mais difícil explicar o porquê de ele ser bom.
— E que engraçado justo você ter perguntado isso, Joël, porque a resenha mais difícil que eu escrevi com certeza foi “A Verdade sobre o caso Harry Quebert” — disse Mari — Eu não tinha a menor ideia de como falar sobre aquela mistura toda, menos ainda de como expressar o quanto o livro era bom. É exatamente como o Alê falou.
— Mas não que essa dificuldade tenha impedido a Mari de escrever um tratado — zombou o Alê – É uma das resenhas mais longas da história do blog!
— Hei, nem vem que não sou a única que escreveu tratados — ela retrucou fazendo todos rirem. – Você não lembra de "Os Miseráveis"?
— Ah, mas essa não vale. Era um livro com mais de mil e quinhentas páginas, então, foi um tratado justificável.
— Ah, mas essa não vale. Era um livro com mais de mil e quinhentas páginas, então, foi um tratado justificável.
— Eu também tenho uma curiosidade - perguntou John – E o nome do blog?
— Nós comentamos sobre isso em um vídeo de aniversário.
— Falando em vídeo... — interrompeu King
— Deixe eles responderem sobre o nome, Stephen — interrompeu Rowling, levantando para se servir de uma taça de vinho
— A nossa intenção com o blog sempre foi dar a nossa opinião sincera sobre os livros, mas também fazer uma análise que ajudasse o leitor a decidir se aquele livro seria para ele ou não – respondeu Alê
— Exato – completou Mari – até porque os elementos que fazem uma pessoa achar um livro maravilhoso podem fazer outra detestar o mesmo livro. Então sempre tivemos essa preocupação de não fazer uma sinopse estendida e ir além do que o leitor encontraria na contracapa do livro.
— Gostei — disse Joel — Porque títulos e nomes são difíceis, não são? Acho que vocês se saíram muito bem.
— Então, sobre os vídeos... — introduziu King
— Sim, os vídeos — disse John, interrompendo — por que vocês pararam de gravar vídeos para o canal no YouTube?
— Porque dávamos muita risada. — brincou a Mari.
— E isso é ruim? — ele questionou confuso.
— É ruim quando a bateria da câmera está acabando e são duas horas da manhã. Ou quando o colega da equipe tem crises de riso intermináveis, não é Alê?
— Hei, isso acontecia com nós dois — se defendeu Alê — e além das risadas, temos que reconhecer que os vídeos eram muito trabalhosos e exigiam bastante tempo.
— Será que vocês vão me deixar fazer a minha pergunta sobre os vídeos? — disse King se fazendo de ofendido — Como foi traduzir aquele documentário sobre a minha vida e a minha obra?
— Foi uma experiência incrível, mas você podia ajudar com uma coisa. Na próxima vez, peça para seus amigos falarem com um sotaque mais fácil de entender, por favor. Tem alguns trechos que nos assombram até hoje de tantas vezes que tivemos que ouvir.
— Ah meninos, assim vocês me enchem de orgulho. Vocês sabem o quanto eu gosto de assombrações duradouras. — brincou o Mestre do Terror.
— E o meu documentário, como foi? — questionou Agatha, sem querer ficar para trás.
— Pronto. Agora as estrelas dos documentários vão começar a se exibir — brincou Gillian
— Também foi maravilhoso — respondeu Mari rindo. — Descobrimos muitas coisas sobre a sua obra e sobre você que não sabíamos. Mas as gravações em áudio que você deixou também foram um desafio e tanto para entender!
— Mas nos orgulhamos dessas traduções — completou o Alê — Vocês são nossos autores “mais preferidos” e os leitores brasileiros mereciam ter acesso a esse material tão rico.
— Pessoal — disse John servindo Gillian de uma taça de vinho — vocês perceberam que o blog está encerrando com uma edição do “jantar” e que essa foi a primeira coluna criada para o blog?
— Poxa! Como você está atento. Assim até nos emocionamos — respondeu Alê
— E você acha que isso foi por acaso? Nós somos sentimentais, John, mas foi tudo friamente calculado — respondeu Mari, fazendo todos rirem — Inclusive a primeira edição dessa coluna foi o meu primeiro post no blog.
— E quem foram os convidados que deram início a essa tradição que a gente adora? — perguntou Joel
— Poirot — ao ouvir o nome do seu personagem, Agatha deu um sorriso satisfeito e cheio de orgulho – e Hannibal Lecter
— Poxa vida! Que dupla! — disse Gillian
— O jantar era um pouquinho diferente no início - explicou Mari - mas aos poucos foi adquirindo esse formato que vocês conhecem hoje.
— O jantar era um pouquinho diferente no início - explicou Mari - mas aos poucos foi adquirindo esse formato que vocês conhecem hoje.
— Mudando de assunto, e agora que vocês não terão mais as responsabilidades do blog, vão colocar suas ideias no papel? — sondou Rowling.
— Acho que chegou a hora — concordou Agatha sorrindo com afeição. – Queremos ler os livros de vocês.
— Eu acho que já passou da hora. Nunca se sabe quando uma van pode atropelar vocês — disse King com seu humor macabro e autobiográfico.
— O que chegou mesmo é a hora do bolo — respondeu o Alê, mudando de assunto.
— Mas antes do bolo: um brinde — disse Mari, ficando em pé e levantando sua taça e todos a acompanharam – A oito anos de histórias maravilhosas e de personagens inesquecíveis ...
— Outros nem tanto, sejamos sinceros — brincou Alê, fazendo todos rirem.
— A oito anos de uma jornada deliciosa. Temos muito orgulho de tudo que fizemos por aqui!
— Outros nem tanto, sejamos sinceros — brincou Alê, fazendo todos rirem.
— A oito anos de uma jornada deliciosa. Temos muito orgulho de tudo que fizemos por aqui!
E foi nesse clima que a noite terminou. Não haveria como colocar em poucas palavras tudo que o blog representou nesses oito anos das nossas vidas. O tanto que aprendemos e crescemos. O tanto que nos tornamos leitores melhores, que se arriscam em gêneros, livros e autores que nunca antes conheceram. O quão gratificante foi conquistar e renovar repetidas vezes cada uma das nossas parcerias, além de conhecer outros leitores que nos acompanharam pelas nossas aventuras literárias. Mas algo que todo leitor sabe é que toda boa história chega ao fim. E tudo estava bem.